Outro dia, ao abrir minha página no orkut, deparei-me com um pedido de socorro. Estava escrito o seguinte: "Tia, quero me tratar. Vc vai me ajudar? Naum aguento mais isso. Quero me internar. bjs".
Fechei os olhos depois de ler e senti uma pontada no meu coração. Enfim, aquele pedido de socorro chegara. Pensei que ele não viria nunca.
Aquele era o pedido de ajuda vindo do meu sobrinho. Um rapaz lindo, de 26 anos, pai de um menino de 7 anos, cuja vida foi definitivamente marcada pelas drogas.
Ainda olho para trás e vejo o menino de outrora, que discursava no púlpito da igreja que frequentava. Fé profunda em Deus. Futuro promissor como aluno recém formado pelo Colégio Primeiro de Maio, conveniado com o CEFET/RJ. Aos 18 anos já trabalhava na Light como eletricista, de onde houve a indicação para fazer o curso e posteriormente ser contratado efetivo da empresa.
Tudo parecia tão bem, com o fluxo da vida seguindo naturalmente seu percurso comum.
Mas a vida sempre nos prega peças, não é mesmo? E como não sou daqueles que dizem "deixa a vida me levar", me pergunto, aonde foi que pegamos a outra estrada sem perceber?
A pequena família do meu sobrinho sempre teve uma vida confortável. Os pais não eram ricos, mas os filhos estudavam em colégio pago, faziam cursinhos, tinham tudo do bom e do melhor. Essa vida era custeada com um pequeno comércio, mais especificamente uma adega, onde meu cunhado e esposa trabalhavam diariamente. Não havia luxo, não havia desperdício. Mas tudo que se precisa para se viver dignamente era providenciado pelo pequeno comércio.
Em casa, havia uma mãe zelosa, que cuidava dos filhos como se fossem sempre pequeninos, como se nunca fossem precisar enfrentar a vida do lado de fora. Havia diálogo, mas aquele corriqueiro, sem profundidade. Era mais ou menos assim: Eu já vivi a vida, já sofri, já apanhei, já chorei por isso, tomei caminhos errados, me arrependi e paguei o preço. Agora vcs não precisam viver isso tudo para aprender a viver. É só seguir o que falo.
Já o pai era mais ausente. Estava sempre preocupado com o trabalho e o sustento da casa. Enquanto a mãe trabalhava na adega apenas preparando as refeições do almoço, ficando ali só naquele horário, o pai lá ficava em tempo integral. Quase não ia em casa durante o dia, quase não participava do dia-a-dia dos filhos. Mas era amoroso, carinhoso e generoso para com os eles. E por isso era adorado.
Numa bela manhã de sol, após se despedir da família e dirigir-se ao trabalho, meu cunhado tem um enfarto no meio da rua e é levado para um hospital particular há duas quadras de casa. Apesar de todas as tentativas dos médicos de lhe salvar a vida, ele morre, deixando para trás uma dívida hospitalar, uma adega que ia mal das pernas, anos de dívidas com o INSS e uma família sem rumo.
Toda a vida mudara desde então!
E foi nessa época que a cabeça de meu sobrinho começou a mudar. Ele não aceitava a perda do adorado pai. Conflitáva-se com a mãe que não entendia que a vida tem urgência para ser vivida. E além do mais, alguns problemas psicológicos que eram sintomáticos há tempos, mas que não foram tratados como se deviam, começaram a ocupar um lugar mais significativo na cabeça dele.
Uma época financeiramente difícil iniciou-se. Um estado de sem rumo pairou pela família toda. E ainda viria mais coisas por aí. A mãe, um ano depois da morte do marido, esteve entre a vida e a morte num hospital público, vítima de um mioma não cuidado, uma cirurgia mal feita que quase atinge os rins, bolsas e mais bolsas de sangue e um longo e penoso período de internação.
Até que veio uma época mais amena para meu sobrinho: a gravidez da namorada, o nascimento do filho, a união dos dois, a partida para são Paulo na esperança de uma vida nova, a sociedade com o sogro e a felicidade de se ter a própria família, de se reger a própria vida.
Mas o que esperar de uma pessoa que sempre teve sua vida nas mãos dos outros? O que esperar de alguém que não aprendeu a amadurecer com a vida...que sempre foi poupado de tudo de ruim?
Apesar de todos os esforços, o fracasso bateu a porta e o retorno para o Rio culminou com o enfraquecimento do casamento, com brigas, com dor e violência. A separação foi inevitável!
Com mais um sonho destruido, sem estrutura para enfrentar a vida, com amizades equivocadas, com insegurança e medo, as drogas foram um refúgio quase que natural.
A era da dor começara...profundamente...irremediavelmente!
O que naquela época iniciara-se com uma simples maconha, hoje é manipulado pelo crack.
O crack é uma droga ilegal derivada da planta de coca. É feita do que sobra do refinamento da merla, que é sobra do refinamento da cocaína, ou da pasta não refinada misturada ao bicarbonato de sódio e água. Eleva a temperatura corporal, podendo levar o usuário a ter um acidente vascular cerebral. A droga também causa destruição de neurônios e provoca no dependente a degeneração dos músculos do corpo (Rabdomiólise), dando aquela aparência esquelética ao indivíduo: ossos da face salientes, braços e pernas ficam finos e costelas aparentes. Normalmente um usuário de crack, após algum tempo de uso, utiliza a droga apenas para fugir da sensação de desconforto causado pela abstinência e outros desconfortos comuns a outras drogas estimulantes: depressão, ansiedade e agressividade.
Estou pronta para atender o pedido do meu sobrinho. Ainda não sei bem como fazer isso. Acredito que, sem muitos recursos financeiros, a dificuldade de encontrar algum lugar decente para o tratamento seja difícil. Nem possuo muita noção do que tenho a enfrentar a partir de agora. Uma luta que, pelas estatísticas, está quese perdida...mas pela fé e o amor, está apenas começando.
Como escrevi no início, não sou daquelas pessoas que "deixa a vida me levar". Sou eu que conduzo meu caminho. Apesar de não saber quase nada dessa estrada em que adentro agora, estarei atenta, ciente de que muitas vezes terei que acompanhar uma multidão, mas que também poderei ser a solitária viajante de um caminho trilhado por poucos vencedores.
Aqui nestas páginas, vcs lerão a minha (nossa, já que a família estará comigo) tentativa de salvar meu sobrinho do crack.
Fiquem atentos. De algum modo isso poderá ajudá-los!
até
Desculpa entrar no seu blog, mas esse cara de quem vc fala é o homem que eu amo e sempre vou amar.... Sou capaz de qualquer coisa p/ o ver feliz....Mas ele ama outra e isso me deixa muito mal....Todos os dias dia eu pedia a Deus p/ o ajudar já que eu não podia e acho que ele me ouviu, sou muito feliz por isso... Quero que saiba que meu amor por ele é puro e sincero... Cuida dele por mim, já que ele não permite que eu cuide... beijuxxx
ResponderExcluirMárcia,
ResponderExcluirA droga realmente é um caminho muito ruim e como sabemos, muitas vezes sem volta.
Acredito muito no que podemos fazer quando realmente desejamos. O pedido do seu sobrinho é o primeiro passo. Desejar sair disso já é mais da metade do caminho pra cura, pra limpeza.
Identificar o problema é importante, aceitar torna-se fundamental. Então agora, o tratamento desse vício com o apoio da família e amigos só poderá trazer bons resultados. É um caminho duro a percorrer, mas necessário.
Desejo boa sorte e que Deus esteja com todos vocês nessa conquista.
Um beijo.
Marcia sou dependente quimica. Comecei pela maconha, ehoje estou no crak. Pedi ajuda a minha familia e todos contribuiram para que eu fosse internada.Tenho 45 anos , dois filhos e vou ser avó. Saindo da clinica sem emprego fui fazer um trabalho no interior e la recai.Estou com medo e com muita vergonha. Onde estou nao ha NA - narcoticos anonimos.procure uma sala de NA para o seu sobrinho. Esse é o caminho...
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