segunda-feira, 4 de maio de 2009

Seguindo na luta

Logo que pude, entrei em contato com meu sobrinho. Precisava ouvir dele a confirmação do que tinha escrito. Sua voz ao telefone era meio embargada, como se houvesse chorado. Confirmou a vontade de largar o que estava destruindo. Mais do que isso, evidenciou o que todos sabíamos. Disse: "Preciso sair daqui. Sei que se não me ausentar deste lugar, se não parar de estar com os "parceiros", será muito difícil largar o crack. Mas eu quero, eu preciso sair disso. Não agüento mais!"

Choramos juntos e ali se solidificou um pacto. Eu iria ajudá-lo. estaríamos juntos nesta luta.

Não tenho experiência com esse tipo de coisa, mas os 8 meses que freqüentei o AA (Alcóolicos Anônimos) na intenção de ajudar e incentivar um ex-amor na sua cura contra o alcoolismo, me deram a noção do quanto são doentes os dependentes de droga, seja ela qual for: álcool, cocaína, maconha, heroína, crack, bolinhas, remédios, etc...

Como são doentes, não tem domínio sobre os seus atos. Antes, achava que tudo era uma questão de querer parar. Mas agora entendo que é mais do que isso. Sozinhos, sem tratamento, sem ajuda, não "conseguem" parar.
Tenho que aproveitar que meu sobrinho está realmente disposto a dar um basta nisso. O tempo solicita urgência na tomada de providência, pois o que hoje é determinação, amanhã pode estar enfraquecido pela necessidade da droga, pela pressão dos amigos e das pessoas que vendem a droga. Afinal, ninguém quer perder uma fonte de lucro.

Engraçado como as coisas acontecem ao nosso redor e não nos chamam atenção. As drogas só passam a ser percebidas quando entram na nossa vida. Foi o que aconteceu com comigo.

Ultimamente tem havido muitas reportagens nos jornais e na tv a respeito do crack. O governo estadual tem tomado consciência do quando a droga tem roubado a infância, juventude e vida dos nossos jovens. Assisti algumas dessas reportagens. Choquei-me com elas. Mas como parecia distante da minha realidade, achei que "eu" não poderia fazer nada, que isso era uma obrigação do governo. E já que ele havia tomado consciência do fato, estava nas mãos certas à solução de tudo. Pensei que o problema não era "realmente" meu e apenas me indignei temporariamente, me solidarizando com as autoridades. Enfim, alguém iria fazer algo, ou pelo menos, mostrar a sociedade que estava fazendo.

Mas as coisas ficam diferentes quando deixam de entrar na nossa casa através da televisão e adentram pela porta de entrada. Aí nos damos conta do quanto responsáveis por ela também somos. O quando perdemos todos, como sociedade, quando algo tão silencioso nos rouba a vida de nossos filhos.

A primeira providência que tive, foi procurar na internet, o nome de clínicas que tratassem do problema. Descobri que existem algumas e, que é muito mais fácil tratar seu doente quando se tem dinheiro no bolso. Infelizmente, não possuo este dinheiro. Daí, as alternativas foram drasticamente reduzidas.

Quando não se tem vergonha de tratar desse assunto, quando não tentamos esconder o que não quer se esconder naturalmente, quando partilhamos a nossa dor com aqueles que realmente se importam, o universo começa a criar alternativas próprias.

Falando com uma prima distante, descobri que o filho dela já havia passado por um tratamento destes. No caso dele, a droga era a maconha. Mas apesar de menos agressiva e com características mais amenas do que o crack, seu filho havia não só se tornado um viciado, mas também havia entrado no mundo do crime, sendo aliciado pelo tráfico e virado um de seus soldados.


Coincidentemente, esta seria a semana em que findava o tratamento de seu filho. Ele havia permanecido 1 (um) ano em tratamento numa clínica mantida pela igreja católica. Segundo ela, a clínica era um lugar agradável, muito parecido com um sítio ou chácara, cheio de regras, disciplina, de tratamento rigoroso e também de atividades que ocupavam a cabeça os internos.


Disse-me que no primeiro mês de internação é proibido qualquer tipo de visita. Provavelmente esse é o período de desintoxicação. Creio eu, que seria doloroso tanto para o interno como para seus familiares, compartilhar esse momento de recuperação da auto-estima e recomposição o ser humano ali internado. Soube também que os internos são incentivados a ter uma atividade diária em prol daquela comunidade: cuidar da horta por exemplo. Além de cultivar uma relação aproximada com Deus e ter sessões de terapia em grupo.
Infelizmente a clinica também era paga, e nesse momento eu não teria como arcar com tal despesa.

Que luz aquela que se abriu a minha frente, quando minha prima me falou de outra possibilidade de pagamento? Contou-me que na época em que se deu a internação do filho, a entidade não era paga e que por isso ele fora internado ali. Prometeu-me que no dia em que iria pegar o filho, falaria com os padres administradores a respeito do caso de meu sobrinho e que depois me daria uma resposta.


Esperei ansiosa por sua ligação. Só ontem ela isso ocorreu. Ela conseguiu uma entrevista com a psicóloga responsável pela clínica. Seria a ela que exporia o caso de meu sobrinho e também solicitaria alternativas para custear o tratamento dele.

Já liguei para a psicóloga hoje. Ela me pediu que retornasse a ligação mais tarde, pois estava em atividade com o grupo naquela hora.


Que ansiedade invade o meu peito! Quantas expectativas positivas tenho dessa nossa primeira conversa.

Como estava falando. Resolvi expor meu caso nesse meio eletrônico porque acho que nossas experiências com esse assunto pode acabar ajudando alguém que esteja na mesma situação. E não é que já me geraram frutos. Uma amiga que leu meu blog acaba de me ligar dizendo que talvez possa me ajudar com a internação. Disse que o marido de sua tia tem uma clínica de recuperação em outro município e que quem sabe se falasse com ele, as coisas pudessem ser ajustadas às minhas possibilidades de pagamento.


Agradeci a ela, mas estou deixando essa alternativa em standby. Como já iniciei o processo com a outra clínica, prefiro dar prosseguimento ali, e se não for possível, buscar então as outras possibilidades.

Já contei tudo isso pro meu sobrinho. Ele me disse que tem evitado sair. Que tem tentado se controlar no uso da droga. E que está realmente determinado a se curar. Disse ter lido meu blog e chorado muito, pois não tinha noção do quanto à família tem sofrido com tudo isso.


Contou-me de como foi agradável passar o fim e semana com o filho de sete anos. Contou-me que há muito tempo não andava de bicicleta com ele e se sentia tão feliz.


Ah! Vocês não conhecem meu sobrinho. Ele é adorável, lindo, cheio de vida. Se vissem como a droga o está matando. Como ele anda magro, com cara de infeliz. Isso é de partir o coração. Tem que dar certo, tem que haver uma solução para isso!

Não posso perder essa guerra. Já é difícil perder um filho para a morte em um acidente, por uma doença ou outras possibilidades do nosso dia-a-dia. Imagina como é doloroso perdê-lo para as drogas?


Imagine!


Até!

2 comentários:

  1. OLÁ MÁRCIA, REZO PARA QUE TUDO SEJA RESOLVIDO DA MELHOR MANEIRA POSSÍVEL. E SE PRECISAR, É SÓ FALAR. FAREI O QUE FOR PRECISO E POSSÍVEL PARA AJUDAR DE FORMA IMEDIATA.

    BOA SORTE A VOCÊ E AO SEU SOBRINHO.

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  2. Márcia,

    Se eu puder ajudar em algo, só falar.

    Mais uma vez, boa sorte!

    Beijo grande.

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